terça-feira, 29 de setembro de 2015

Eclipse

(Parece nome de filme de vampiro que brilha igual a diamante, mas não tem nada a ver....rs...!)

Nesse dia, eu estendi uma esteira sobre um tapete de EVA e fiquei deitada no chão do meu quintal. O céu estava meio nublado, as nuvens iam e vinham, ora mostrando ora ocultando o "astro" (no sentido literal da palavra) da noite.

Me fez pensa muita coisa...
Além de me sentir incomodada pelo fato de há muito tempo eu não fazer isso: observar a noite.


Assim que cheguei no quintal, e apaguei as luzes, parecia cega, uma escuridão imensa. Depois, deitada ao chão, fui me acostumando com a escuridão de tal forma que a luz acesa do quarto das crianças começava a me incomodar. Aos poucos, eu já estava "íntima" da negritude do céu, que na verdade, não estava tão negro assim. Algumas estrelas piscavam, outras estavam encobertas. 

Creio que a sensação seja muito parecida com as dificuldades e novas fases da nossa vida. Quantas vezes passamos por momentos tão difíceis que parecem nunca ter fim. Como as nuvens imensas carregadas de chuva que passavam por cima da lua ocultando-a por alguns minutos, tirando a alegria de quem estava doido para ver o tal evento. Mas logo adiante, percebíamos o fim da imensa nuvem e o céu aos poucos se abria. Por vezes a falta de fé e esperança faz isso conosco. Nos deixa cego para ver o além do sofrimento, das trevas e da dor. E aos poucos aquela fase ruim vai dando espaço ao aprendizado, a maturidade e os bons momentos, o céu aberto, começam a aparecer. O "tamanho" da nossa nuvem depende muito mais da nossa visão sobre ela. Talvez ela não seja tão grande quanto você pensa.

É como "aquela" mudança. Chegamos naquela cidade estranha, sem ninguém conhecido, com medo do que é diferente. Ou quando mudamos um hábito, como parar de fumar, as horas parecem não passar, desejando violentamente pela próxima tragada. Quando resolvemos levantar cedo, e fazer academia, e temos a impressão do cronômetro da esteira elétrica se arrasta. Ou aquela matérias chata com aquele professor insuportável, os ponteiros parecem carregar carvão e não saem daquele quarto de hora. A perda de alguém especial vai enchendo de luto e vazio a sua vida.

Quando de repente...o corpo começa a respirar melhor na falta da droga. Levantar cedo se torna tão natural que até aos sábados você já se acorda às 6:30 sem precisar. Você se entreteve na atividade do professor e aula passou num instante. E a dor da ausência do outro, apesar de martelar o coração, vai virando uma bela lembrança, as lágrimas vão caindo com menos frequência. Apesar da saudade ser a mesma, vamos aprendendo a lidar com ela. Ora como uma amiga que consola recordando os momentos felizes, ora como inimiga que castiga imaginando o resto da vida sem aquele ser especial. Você começa a levar sua rotina, fazer o que tem que fazer, trabalhar, cuidar da casa, dos filhos, pagar conta...e até festejar! Festejar o que tem que ser festejado, mesmo com seu mundo interior em ruínas. Afinal....a vida segue.

Assim como nenhuma dor é eterna, nenhuma alegria também. Logo que se passa a grande nuvem escura, o céu parecia límpido e belo. Entretanto, há alguns metros dali, se aproximavam novamente novas nuvens de chuva, umas menores, outras maiores. E a lua "piscava"! Escondida-se e aparecia várias vezes naquele tempo em que fiquei ali.
São aqueles momentos que nos tiram do sério, nos tiram o sono, nos estressam e nos devastam. Mas que daqui há 5 ou 10 anos, nem nos lembramos o porquê daquela situação nos cansar tanto emocionalmente. 

Antes mesmo de começar o ponto principal do evento, fomos colocar as crianças para dormir. Assim que as colocamos, voltei para o quintal e vi o eclipse começava. Fui rezar com eu esposo, conversamos um pouco e depois, perto da meia-noite, fui presenciar o espetáculo!

Aquela lua vermelha! Vermelha de sangue, de amor, de paixão! O céu estava completamente limpo, como se as nuvens negras dissessem a ela: - O palco é seu! - Tentei tirar algumas fotos com a máquina sem sucesso, e deixei quieto. Preferi aproveitar o momento que tentar registrá-lo.
Para minha infelicidade, no dia anterior, eu havia dado um "jeito" no meu pescoço. Estava morrendo de dor, tomando analgésicos para aliviá-la. Toda hora que eu levantava a cabeça, sentia a pontada atrás da nuca. Pois o chão estava muito gelado para eu me deitar novamente.



Mas assim como uma bailarina deixa seus pés cheios de calos e machucados para permanecer linda na sapatilha de ponta, deixei meu pescoço doer para curtir tal momento.

Creio que esse eclipse simbolize aqueles momentos eternos nas nossas vidas. Aqueles únicos: o dia do nosso casamento, o momento do "sim" e do beijo. A tão esperada formatura, juramento, baile e despedida dos amigos. O nascimento do filho, aquele choro que parece ecoar em nossas almas pelo resto de nossas vidas. Que tenham nossas crias 5, 15, 35 ou 50 anos, nunca esquecemos o 1º chorinho. São os eclipses das nossas vidas. Que apesar de muitas vezes registrados em fotos e filmagens, gostamos de revivê-los em nossas mentes e contando para os familiares e amigos.

Que você tenha muitos eclipses durante a sua vida! E que quando as nuvens negras encobrirem o seu céu, lembre-se que logo após a tempestade, vem a bonança, as nuvens feitas de algodão e o arco-íris. Nada é eterno. Somente o amor,

Boa semana a todos!

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